Obediência à Igreja
"Francisco, vai e restaura minha igreja" |
O que se
entende por ‘obediência’ hoje? Parece que se faz necessário, mesmo que de forma
primária, refletir sobre o básico da fé cristã em questão de obediência. Em um
mundo que presa pela liberta e escolha pessoal, a obediência à Igreja parece
soar com opressão. Necessário aqui lembrar de Francisco de Assis e do movimento
primitivo franciscano. Francisco colocou na regra para seus frades que todos
deveriam ser obediência à Santa Igreja e a seus superiores legitimamente
eleitos e que, por exemplo, jamais exercem a pregação sem a autorização do
bispo local.
Aqueles que estavam
fora da obediência eram considerados naquele período como hereges (Século XIII).
Hoje, a noção de ‘herege’ parece passar para a ordem do subjetivo. No desejo de
liberdade pessoal cada indivíduo em sua interpretação julga e fala o que é certo
ou errado em matéria de fé. Vê-se isso claramente em alguns movimentos e ‘líderes’
tradicionalistas, pentecostais, liberais, etc. que espalham em cartas, em livros
e nas redes sociais o que acha mais correto em matéria de fé. E para surpresa
de todos, até mesmos os que dizem seguidores de Francisco de Assis, por vezes, vão
contra as autoridades da Igreja e não mais levam a paz e o bem, mas a divisão.
Não há
dúvidas que hoje não é fácil falar dessa obediência integral que Francisco ensinou,
onde os melindres de espiritualidades míopes não conseguem ver a riqueza presente
em toda a Tradição que sempre se renova. Por trás das ‘revoltas’ depara-se
quase sempre com a hipocrisia farisaica com críticas acentuadas e pouca ou
nenhuma vivência. Francisco de Assis alertou os frades que procurassem viver e usassem
de poucas palavras. A revolução Franciscana, obediente à Igreja, não se deu na
provocação de conflito, mas num sentido da obediência mais perfeita: do
Evangelho. Não eram palavras apenas, eram comportamentos encarnados. Os frades
não defendiam leprosos sentado em suas escrivarias das universidades, dentro de
conventos ou em seus feudos.
O que precisa ser entendido de forma
mais profunda é que a Igreja de Deus não se resume a uma instituição e/ou a
seus pecados. A igreja, povo de Deus, caminha entre sobras e luzes, buscando
sempre ouvir a voz do Pastor e atualizar sua mensagem. O que São Francisco ensina
é que o caminho de obediência não é da revolta, mas da vivência concreta. Defender
minorias, por exemplo, não é simplesmente levantar bandeira, porém é estar na
mesma condição deles, viver com eles e lá falar que se quer um Deus amoroso e
que podemos nos ajudar. Fora disso, se estabelece as ‘palavras falsas’, por
mais que elas pareçam bonitas.
A revolução
franciscana se dá dentro de duas obediências – que na verdade é uma só – à Cabeça,
Jesus Cristo Nosso Senhor e à Igreja de Deus, em seus ministros. A interpretação
subjetiva da obediência que se vê nos tempos atuais, nada mais é do que um ‘mimimi’
de uma geração que não suporta pertencer a condição encarnada e limitada do ser
humano (por isso que se escandalizam com os pecados na igreja). No fundo
trata-se de onipotência e negação do que com a boca defende. Necessário
entender que somos pessoas que precisam umas das outras e que, por mais que
lutemos, somos afligidos pelos pecados. A ideia de uma igreja perfeita é uma heresia
atual e que fundamenta a desobediência.
Por fim, o básico precisa
ser dito: eu, você, somos igreja. Francisco e seus primeiros frades entenderam que
eles eram igreja. Que a transformação não era forçar ninguém, e sim, unicamente
a eles mesmo. Compreenderam que a verdadeira obediência nasce da escuta, ou
seja, perceber o que é necessário fazer como Igreja. A crítica ao próprio corpo
é negar que pertence a ele e ser irresponsável quanto a sua vocação.
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