A Face do Mal
A artimanha do mal é fazer
dele um espetáculo. O que estamos chamado de ‘espetáculo’? Seria a cortina de
fumaça lançada pelas concepções religiosas atuais que, inconscientemente ou não,
escondem a verdadeira face do mal, não tocando nela nem se quer com o dedo. A multiplicação
de cerimonias aonde acontece exorcismo – em grande parte apenas de cunho
sugestivo e psicológico – se dá em variadas denominações cristãs (evangélicas e
católicas). Uma de suas características é a espetacularização, teatralização,
do rito de expulsar um mal que tomou ‘posse’ do fiel. Em alguns casos, existe até
mesmo uma conversa com o demônio que está na pessoa. Em outros, mais comportadas,
o demônio não fala, simplesmente joga o fiel no chão.
No comando desses cultos
estão os líderes pentecostais e neopentecostais. Enquanto a primeira vertente expulsa
o mal que impede o fiel de seguir e fazer a vontade de Deus, a segunda corrente,
já interpreta a pobreza, por exemplo, como um espírito impuro. Tais cultos vêm ganhando
espaço nos meios evangélicos e católicos e tem enchido igrejas e outros lugares
com milhares de pessoas e por vezes até milhões em alguns dias. O que eles combatem é um mal externo que afeta
as pessoas: Entidades, espíritos, etc. Quanto aquele mal que nos relata os Evangelhos
“É do coração do homem que saem os maus desejos, a cobiça,....” pouco ou nada
são tratados nesses encontros. Constata-se nesses meios que o discurso
religioso deve agradar o público. Logo, não dá para imaginar que o pregador
fale do mal que já dentro do ser humano, pois pouco público ele teria. E, ao
combater o mal fora, acaba por tirar a responsabilidade do fiel.
Sabemos que a linguagem metafórica
de um ‘mal fora’ pode, em muitos casos, ajudar a superar estados psicológicos
de base, porém, pouco toca os fundamentos de uma experiência religiosa profunda
que remete diretamente a Encarnação (tema que discutiremos em outros artigos). O
que se deve considerar é que a apresentação desse mal de maneira ‘espetacular’
acaba por esconder o próprio mal presente no coração de todo ser humano. E em
sua profundidade, toca o mistério do Mal. O que pode parecer estranho, contudo,
é que a teatralidade religiosa acaba por camuflar o mal que assola o mundo.
Como se manifestaria o mal maior?
Poderia dizer, e isso de forma resumida, que ele é a negação de Deus. Pensemos:
Deus encarnou, tomou sobre si nossa carne. Assim, tudo que vai contra essa
imagem – verdadeiro Deus e verdadeiro homem – é o anticristo, o anti-humano, o
anti-divino. Tudo que quer e produz a morte do ser humano é do diabólico. Enquanto
tais movimentos religiosos estão preocupados com a ‘macumba’, a ‘feitiçaria’, com
a ‘entidade’, com tais ‘possessões’, o profundo mal leva a morte milhares de
pessoas. Como faz isso? Por exemplo, na ganância do poder e do dinheiro. Vemos claramente
na corrupção, no acúmulo de poder, etc.
Para que uma pessoa precisa
de ser bilionária? Por que ela tem que possuir 10 bilhões de reais? O mercado, desculpa
diabólica, diz que conseguiu com seu esforço e que também o pobre e a classe média
– se trabalhar – conseguirá. Isso é verdade? Não, é mentira diabólica que leva
a escravidão e a morte de milhões de pessoas.
O exemplo mais maligno que
temos hoje no Brasil é a corrupção. Que não se trata de um espírito fora, mas
da possibilidade da maldade do coração humano. Por isso, que vemos tais pessoas
em cultos evangélicos e católicos sem que o verdadeiro demônio saia de seu
corpo (ironia). Políticos, empresários que adentram celebrações carregando
imagem de N. Senhora. Políticos (processados) que vão a cultos evangélicos é
dão graças a Deus por seu mandato. Que deus é esse? Nada menos que o diabo travestido
em deus. O mentiroso, o enganador que usa do espetacular como cortina de fumaça.
O que o cristão combate é o
mal que tenta matar a imagem de Deus que é o ser humano. Filhos e filhas muito
amados que sofrem não possessões de espíritos externos, mas da violência mais brutal,
a morte prematura. O mal maior não está no que ‘retorne’, que baba, que dá
gritos, que cai nos cultos. Eles está no caído a beira da rua, na briga de casal
devido as situações de pobreza, no vício das drogas, na fome, etc.
Existe algo mais maléfico
que matar um ser humano de fome? Um dor que dura dias, meses, anos. E nela não
está só a fome de comida, mas a fome do afeto, o sentimento de rejeição, o
abandono. Os espíritos maus que combatemos está no coração humano e não em
entidades metafísicas.
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