Sobre a Introdução às Admoestações
“Sobre esse título,
encontramos 28 pequenos escritos, redigidos e recolhidos, não se sabe bem ainda
por quem, nem onde e nem quando. Os franciscanólogos, como Esser, porém não
duvidam de que na origem dessas pequenas pérolas da Espiritualidade Franciscanas
esteja a pessoa de Francisco. Mas, como teriam surgido esses opúsculos? Qual
seria sua natureza e suas características? Qual sua importância para a
Espiritualidade Franciscana? Talvez se possa dizer que as Admoestações são
pequenas sínteses ou resumos das intervenções de Francisco nos famosos
Capítulos de Pentecostes. Era aí, nesses encontros de toda a fraternidade, que
o seráfico pai dava suas orientações e fazia suas exortações, como observam
muito bem suas Legendas.
Uma vez que o âmago
desta Regra e desta Vida é o Seguimento de Jesus Cristo, vivendo em obediência,
em castidade e sem próprio, não é de se estranhar que todos esses textos, quase
sempre, iniciem ou tenham como ponto de partida um dito do Evangelho. Diz o Senhor, é o princípio de quase
todas as Admoestações. Igualmente, não é de estanhar que a grande preocupação,
que perpassa todas elas, seja a de que os Irmãos mantenham o coração livre de
toda e qualquer apropriação: libertos e expropriados de coisas e de si mesmos;
de todo o tipo de poder ou autoridade; do próprio bem que o Senhor opera e faz
por meio de cada um; do pecado dos Irmãos e da vanglória ao anunciar a própria
palavra de Deus.
A partir da XIV
Admoestação, excetuando-se a penúltima, todas iniciam com um Bem-aventurado, e refletem os temas
fundamentais das Bem-aventuranças
evangélicas. Dai o costume, também, de identifica-las como As Bem-aventuranças franciscanas.
A natureza e a
importância desses opúsculos podem ser percebidas partindo do significado da
própria palavra admoestação.
Os termos admoestação,
ou admoestar, vêm do verbo latino admoneo
que, entre outras coisas, significa fazer
pensar, recordar, chamar a atenção sobre, advertir, convidar, convocar, animar,
fortalecer, alguém na busca de seu projeto de vida. Como se trata de uma
fala de Irmãos para Irmãos, isto é,
de seguidores para seguidores de Jesus Cristo, as Admoestações sempre revelam a
tonalidade de uma profunda corresponsabilidade e mútua pertença.
Na verdade, admoestar
ou ser admoestado, como faz Francisco aos seus Irmãos, só é possível porque há
entre eles o profundo e claro sentimento de uma comunhão afetiva e efetiva que
brota da convocação comum e anterior a todos. Por isso, todos sentem-se
responsáveis por um e mesmo mandato divino.
Portanto, podemos dizer
que as Admoestações são apelos, convites e animações que Francisco faz e dirige
aos Irmãos, a partir do profundo toque da inspiração originária e comum a
todos. Por isso, as Admoestações sempre se revestem deuma tonalidade muito
fraterna, paternal, forte e insistente. Seu objetivo é ajudar aos Irmãos a se
manterem fiéis à convocação comum que vem da inspiração originária da Ordem.
Consequentemente, o
segredo da leitura das Admoestações está na fidelidade à afeição do mistério do
encontro e do Amor do Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo com o próprio leitor.
Segundo as características e as exigências de tal fidelidade e vida.
Diante do Deus-Amor,
tão apaixonado por nós, seus filhos, Francisco não cessa de conclamar-nos para
que imitemos a Jesus e reconheçamos a boa aventura de sua Encarnação-Paixão e
Morte de cruz que Ele nos mereceu. Por isso, expressões como: Vejamos e creiamos firmemente... bem-aventurados... perpassam quase todos
esses pequeninos textos: as Admoestações de São Francisco. (Dos tradutores.
Editora Mensageiro Santo Antônio, 2005, p. 87-88).
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