A Inveja: o demônio na Vida Religiosa




           
‘A felicidade do outro é minha tristeza’. Ela, a inveja, é filha da preguiça, pois, como fruto imaturo, não se esforça em nada para atingir aquilo que admira. Tem como resultado a tristeza pela alegria alheia. A conquista da pessoa que é elogiada funciona como um punhal no coração do invejoso. Sente-se inseguro e recorre normalmente a vingança. Pensa consigo: “Vamos ver que tem mais elogios? ”. Ou “Vamos ver quem tem mais amigos? ”. Por ‘amigo’ entenda: serviçal ao Narciso. Porque somente pode ser ‘amigo’ do invejoso se esse encontra nos indivíduos, adoradores de sua própria imagem.



            Na Vida Religiosa tem tal demônio? Sim. Na verdade, ele está em todos nós. Sempre à espreita. Somente manifestando quando se sente desconsiderado. E tal situação emerge depois que se instala o vício da busca de elogio. O religioso desatento – sem reflexão e oração – cai nisso com facilidade. Como se sabe, diante do público – leigos, e aqui se entenda ‘leigo’ mesmo, aquele que pouco sabe – os religiosos são acolhidos e elogiados por qualquer coisa. Muitos dizem que é o carinho do povo e que se trata do acolhimento daqueles que são ministros do senhor. Será mesmo? Não, nem sempre. E se poderia dizer: quase sempre não. O religioso que tem consciência de si sabe muito bem dos perigos dos elogios e das ‘boas mesas’. Porém, o desavisado....



            Não precisa de esforço para perceber em muitas igrejas, congregações, e dioceses, a presença do ‘tinhoso’ (artimanha do comportamento de inveja). Basta um padre ou religioso fazer sucesso (e sucesso hoje aos olhos do mundo é ‘insucesso’ ao Reino de Deus) que se inicia o ‘pampeiro’. Na realidade, esses contextos de conflitos ‘fraternos’ não se dão no campo do Evangelho – como aquele de Paulo e Pedro, pois essas seriam bons – mas acontecem mesmo é na ‘calçada da fama’, ou seja, longe da Boa Nova. Multidões ou um grupo de pessoas reunidas pode ser terreno fértil para brotar ‘ele’. Mesmo que o religioso fale de Deus o tempo todo durante sua pregação, se não tomar cuidado, cairá sobre o domínio do orgulho. E o fruto, como vimos, é a inveja, a tristeza, a vingança, etc.



Qual a saída para Vida Religiosa hoje nesta situação? Lembro de Francisco de Assis. Ele passava a maior parte do tempo em lugares ermos com os irmãos ou sozinho. Como também advertia os frades para não desejarem os cargos de prelados. E isso porque ele sabia que tipo de barro somos feitos. A melhor atitude que alguém pode tomar quando começa a ser por demais elogiado, por mais que o mereça – ou não –, deve ser de se retirar de cena e jamais querer permanecer sempre na mesma função. Quantos religiosos doentes vemos hoje. Alguns mesmos ‘famosos’ conhecidos de todos, devido e falta de consciência, adoeceram. É não há dúvida que vemos hoje muita inocência de religiosos e religiosas da psicologia humana, principalmente da própria. O primeiro passo para se tratar da doença e reconhece-la, fazer o diagnóstico e procurar a ‘medicina’ necessária para cada caso. Para os diversos carismas a cura está no Evangelho de Jesus Cristo: “Aquele que deseja ser o maior, seja o servo de todos”. E para terminar... ninguém, ninguém mesmo, está imune ao pecado de inveja.

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