Religiosidade e entretenimento

L’image contient peut-être : une personne ou plus, foule et plein airO canal chamado “Porta dos Fundos” fez vários vídeos de comédia sobre como os padres e fieis participam das missas. Muitos Cristãos católicos reagem, dizendo que é uma falta de respeito o que eles fazem. Contudo, a origem das ironias parece ter uma fonte no próprio modo de celebrar hoje. As missas shows, os padres midiáticos de um lado, e as missas tradicionais de outro. O que se pode refletir sobre isso?
       Não dá para negar que muitas celebrações têm tomado ares de entretenimento, diversão para os fiéis. O que chamado de diversão? De forma semelhante a de um show de música, que tem a pretensão de fazer vibrar os espectadores, também as celebrações shows tem a pretensão de mobilizar a prateia em altos e baixos emocionais. Que vai da alegria do louvor exaltante ao choro das curas. Nos dois casos, como se estivesse em uma montanha russa de emoções, o objetivo é sentir-se vivo.
            
Existem, entre católicos e evangélicos, líderes que abrem os braços, aponta o dedo – como se uma energia saísse de seus dedos e mãos, a exemplo dos filmes da Marvel – outros ainda, jogam o blazer sobre os fiéis e eles caem. Outros ainda passam seu lenço nas pessoas e elas ‘ficam curadas’ e tantos outros exemplos que poderíamos falar. Em todos os casos, o que se destaca é o entretenimento. Fazer sentir vivos os espectadores que ‘assistem’ as celebrações.
           
Talvez alguém indagassem: “Não, eles não assistem, eles participam”. Isso não é bem verdade. O centro normalmente dessas celebrações-shows são os próprios líderes famosos e não o conjunto dos fiéis que formam a comunidade. A ideia de ‘igreja’ da teologia cristã aqui fica desfigurada em seu sentido. A figura de Jesus Cristo fica escondida no espetáculo que se mostra no líder, nas músicas, nos curandeiros, etc. que buscam exaltar as emoções dos presentes. Quanto mais choro, quedas, gritos, manifestações estáticas, mais a celebração realizou sua função.
           
Outra característica dessas celebrações é encontrar fieis que levam comida e bebida para o momento. Tem pipoca, refrigerante, água, bolo, etc. Mas não se trata da comunidade de Corinto. Aquela que foi gerada na pregação de Paulo. A antiga Eucaristia que tinha o jantar como um do momento celebrativo. É uma alimentação pessoal. Não partilhada. Como aquelas que compramos nos cinemas.
           
Tanto essas características como outras encontramos nas celebrações shows. Deparamos então diante da religiosidade oferecida como entretenimento. Por mais estranho que se pareça isso e que alguém venha a dizer que não se pode aplicar tal entendimento para esses encontros religiosos, vemos claramente a religiosidade sendo transformada pouco a pouco em diversão. Lugar que o fiel realiza seus desejos emocionais – altos e baixos das emoções sentida como prazer e local da centralidade da imagem do líder religioso.
           
Aqui caberia varias outras reflexões, tanto das ciências da religião como da teologia. Apresentei somente a transformação perigosa – para a vivência cristã – que está ocorrendo na mensagem cristã: o esquecimento da comunidade que celebra e da centralidade do Cristo, transformando toda mensagem cristã em um dizer/fazer agradável para os ouvintes.

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